29.12.05

III VOLUME - CIFRAS E CRIPTAS

(...) comecei a ler o 3 volume e na página 9 do livro em referência a mensagens cifradas utiliza a palavra "encriptada". Este termo não pode ser utilizado neste contexto pois uma cifra não é uma cripta (...), espero que este lapso seja corrijido em futuras edições."

(Gonçalo Carvalho)

II VOLUME - O PRÉMIO NOBEL ANTES DE O SER

Manuel Correia no Egas Moniz:

A primeira entrada de Egas Moniz no território biográfico que Pacheco Pereira delimitou, encontra-se no 2º volume da biografia: JPP, (2001), Álvaro Cunhal. Uma biografia política - «Duarte», o dirigente clandestino (1941-1949), Vol. II, Lisboa, Temas e Debates.

Reza assim, a páginas 808:

Assim, em Março de 1947, a CC do MUDJ, numa circular confidencial, lançava uma campanha para recolha de 20.000 assinaturas destinadas a patrocinar uma homenagem a Norton. De forma críptica, dizia-se «tratar-se de uma iniciativa de maior alcance político, da qual podemos tirar várias conclusões, altamente agradáveis para nós» {nota 39: a comissão central do MUDJ, circular extraordinária às comissões (confidencial), 11 de Março de 1947.} no entanto, o nome do General não suscitou consenso desde o início e, na oposição não comunista, Sérgio, parte do PRP e Cunha Leal opuseram-se. As razões não eram coincidentes e espelhavam divergências que já vinham de trás, mas somente Cunha Leal se manteve tenaz na sua atitude de recusa.


António Sérgio pretendia a candidatura de um militar moderado no activo, ligado ao regime, Costa Ferreira, ou o Prémio Nobel da Medicina Egas Moniz, considerando as mais abrangentes e mais capazes de mobilizarem áreas fora da tradicional oposição {nota 40: Secretariado do PCP, Alguns aspectos da actividade do sr. A. S. Contrárias à Organização do Conselho Nacional, Agosto, 1948}.

Esta passagem é interessante a vários títulos. Salienta as clivagens existentes nas oposições ao regime fascista, mostrando quão complicadas já eram, por esses tempos, as coisas nestas paragens; chama a atenção para a demarcação comunistas/não comunistas; e comete um pequeno deslize de carácter anacrónico: trata Egas Moniz como Prémio Nobel, coisa que só virá a verificar-se mais tarde, em 1949. É inteiramente compreensível o deslize. Poder-se-ia até, se necessário, em favor de Pacheco Pereira, sustentar que, escrevendo nós sempre no presente, não é de espantar que colemos aos actores históricos as qualidades que já sabemos que eles virão a adquirir num futuro não muito longínquo. É claro. No entanto, aqui fica a reflexão.

III VOLUME - "NEGRITUDE"

(...) lendo (...) o seu último livro, verifiquei na página 532, um pequeno erro, pouco relevante considerando o conjunto do trabalho que forneceu. No segundo parágrafo da página 532: "...a primeira a receber forte influência dos movimentos animados por Senghor com a publicação do Orphée Noir e, mais tarde, por Aimé Césaire, "da negritude".

A palavra “negritude” é um neologismo, criado pelo poeta martinicano, Aimé Césaire, em 1939, num longo e belíssimo poema intitulado « Cahier d’un retour au pays natal », publicado na revista Volontés 10 e integrado na antologia organizada por Léopold Sédar Senghor e publicada em 1948, intitulada: Anthologie de la Nouvelle Poésie Nègre et Malgache. Para o eu – poeta, a negritude significa a acção e a força pela negação, reiterada sob a forma de anáforas ao longo do poema. A negritude corresponde a uma consciência e valorização da cultura negra. Para Senghor, a palavra transforma-se em verbo, logo é a palavra em acção.

(Ana da Palma)

20.12.05

LUIS FILIPE ROCHA - APRESENTAÇÃO DO III VOLUME DA BIOGRAFIA DE CUNHAL (ESTABELECIMENTO PRISIONAL DE LISBOA, 29/11/2005)


Na sua brevíssima introdução a este 3º volume da biografia de AC, o JPP afirma: “sem a história do PCP e a história da oposição ao regime ditatorial, Cunhal não pode ser «explicado» na sua biografia política”.

Portanto, o aviso é claro: a obra trata de 3 percursos históricos:

A História do PCP: que, como sabemos, está por fazer. Por parte do PCP, o que existe é sobretudo hagiografia, pontuada por algumas histórias de santos, mártires e vitórias, e por isso mesmo cheia de ensurdecedoras lacunas, e fora do PCP, embora existam obras sobre o PCP, uma sua história está de facto por fazer. Para além da história política de Álvaro Cunhal, o JPP, em meu entender está a fazê-la. Como ele diz, não é definitiva, nunca será, terá também as suas lacunas e os seus erros, mas em minha opinião é a primeira vez que está a ser feita com este fôlego e este acervo de informação e análise.

A História da Oposição Democrática ao Estado Novo - que não tem sido feita porque aquela que está a ser elaborada é a história dos vencedores...

A Biografia Política do dr. Álvaro Cunhal - talvez a personalidade/personagem da história portuguesa do séc. XX com mais destacada dimensão mítica. Nesse sentido será também das poucas personalidades/personagens do século XX português com dimensão épica, no sentido tradicional do épico: heróico e de grandeza e intensidade fora do comum. No prefácio ao seu 1º Volume, o JPP implicitamente partilha desta visão ao explicar a razão de ser desta obra. (E já gora: nesse prefácio o JPP anuncia que a obra será constituída por 3 volumes, e que o 3º começará com a fuga de Peniche. Pelos vistos, quer o editor, quer nós leitores, já ganhámos pelo menos um volume, uma vez que este 3º, com 730 páginas termina precisamente com a Fuga de Peniche)

Passemos então ao livro:

Em primeiro lugar, para mim, como leitor e como cineasta, destaca-se de toda a obra uma característica decisiva: ao fôlego do investigador exigente e sistemático e do pensador lúcido e rigoroso, junta-se o talento de um narrador, que sabe contar as histórias dentro da História, que sabe retratar pessoas de carne e osso, ambientes, épocas particulares e contraditórias, os seus conflitos, dramas e iniquidades, vividos e intensos, que sabe sobretudo cruzar narrativamente de uma forma muito activa e tecnicamente escorreita materiais muito diversos: relatórios das mais variadas origens, depoimentos, fotografias, reproduções, documentos vários e textos ficcionais, poesia, referências teóricas diversas, etc. Como o próprio JPP afirmou no prefácio ao I Volume, esta obra também pretende contar “as vidas concretas das pessoas concretas”. E é por isso que a sua leitura nos proporciona, para além de um olhar único e original sobre o séc. XX português, um enorme prazer que só as grandes narrativas nos proporcionam.

Em segundo lugar, vejamos, numa aproximação estatística, como se arrumam neste 3º Volume os três percursos históricos enunciados:

Como vimos o livro tem 730 págs., divididas por 15 caps. Apenas 5 caps., num total de 220 págs, respeitam directamente ao dr. AC. Exactamente 30% do livro. Os outros 70% são história do PCP (7 caps e 330 págs - 45%) e história da Oposição Democrática (3 caps. 180 págs. - 25% - dessas 180 págs, 120 são dedicadas aos anos 1957-59, ou seja às eleições presidenciais e ao “furacão” Humberto Delgado).

Portanto: 1º - Histª do PCP com 45%

2º - AC com 30%

3º - Oposição Democrática com 25%

Assim sendo, vejamos em breve síntese como se arrumam as Histórias conjuntas do PCP e da Oposição democrática ao salazarismo:

Um 1º período, que ocupa quatro capítulos, o 2º, o 3º, o 6º e o 7º, respeita aos anos de 1949 a 1952:

- nesse período é-nos apresentada a história turbulenta de 4 anos terríveis e desastrosos para o PCP: a enorme e catastrófica vaga de prisões que se segue à de Cunhal, num dos maiores desastres conspirativos de sempre, que levou ao recuo da acção e da organização do Partido; (referir o insp. Gouveia e o seu livro, que AC considerava bem feito e importante para perceber o PCP)

- a ascensão de Júlio Fogaça ao Secretariado (lembrar a oposição Fogaça-Cunhal);

- as eleições de 1951 e os conflitos habituais entre candidaturas de oposição ao salazarismo, (uma constante da esquerda portuguesa que pelos vistos dura até hoje...) em 51 a disputa deu-se entre a candidatura de Quintão Meireles e de Ruy Luís Gomes;

- as grandes purgas levadas a cabo pelo PCP: de dirigentes, funcionários e militantes, e de intelectuais, à volta das revistas LER e VÉRTICE: os casos de Piteira Santos e Lyon de Castro, Mário Dionísio, João José Cochofel e Fernando Lopes Graça. Uma página negra da história do PCP, como terá sido também a das mais que prováveis execuções levadas a cabo nessa época, e que o JPP conta e analisa com detalhe. (Sobre a “Ordem de matar”, como lhe chama o JPP, eu próprio falei com o dr. AC: relatar conversa) - Sobre as execuções ler passagem do livro na pág. 63.

Tão negra como a página das execuções é a seguir a página em que o PCP reescreve a biografia de um dos mortos, Manuel Domingues, ex-dirigente a que são atribuídos indiscriminadamente traições e desastres, que o próprio AC mais tarde declara não acreditar...

- Ainda nessa época, dá-se a efectiva traição de um dirigente importante membro do CC, Mário Mesquita, que o JPP conta e analisa com detalhe: os danos dessa traição foram de novo enormes no Partido.

Vem depois um 2º Período, constituído por outros 4 capítulos (8º,9º,11º e 12º), que cobre os anos de 1953 a 1958, e do qual destaco:

- em 1º lugar a morte do, na época, muito chorado “camarada” José Estaline, em Março de 1953 e das repercussões que essa morte teve não só no PCP como em todo o então mundo comunista;

- o estabilizar da ascensão de José Fogaça na Direcção do PCP, que tendo progressivamente afastado ou isolado os seus adversários, reforçou o seu poder pessoal na Direcção do P. por estes anos (referência do JPP em relação ao poder pessoal no PCP, seja de Fogaça seja de Cunhal: nunca foi completo...). Essa estabilização do poder em Fogaça, permite-lhe elaborar e fazer aprovar o 1º Programa do PCP (escrito entre 1953-54), algo que o próprio Cunhal não tinha ainda tentado fazer. A discussão desse programa e a revisão da política de unidade com a oposição democrática leva aliás a nova purga, que inclui Cândida Ventura, João Rodrigues e José Lopes Baptista: os 3 acusados de uma infracção recentemente aparecida: fraccionismo.

- é tb. por volta de 1953-54 que se inicia o culto da personalidade e da mitologia à volta de AC: o JPP destaca como raízes desse culto, um texto hagiográfico de Jorge Amado, um exaltante poema de Pablo Neruda (“lâmpada marina”) e uma Biografia de Álvaro Cunhal, da autoria de Fogaça (terá sido aliás uma peça importante da sua estratégia de ascensão e afirmação).

- as mudanças na URSS, com KRUTCHEV como secº-geral do PCUS, e as novas orientações políticas de distensão na guerra fria e de liberalização interna, levam tb. a uma significativa viragem política do PCP: procede-se oficialmente à correcção do “desvio de esquerda” e “ao combate ao sectarismo”. Essa mudança política produz oscilações ideológicas, ora à esqª ora à dirª, durante 2 ou 3 anos. Finalmente, ainda na URSS, em Fevº de 1956 realiza-se o XX Congresso do PCUS e Krutchev apresenta o relatório dos crimes de Estaline. As consequências no mundo comunista são as de um tsunami, e o PCP, embora nunca tenha publicado esse relatório, assume as suas consequências, sobretudo numa alteração profunda da política de unidade com a Oposição Democrática, com a proposta de uma Frente Anti-Salazarista e da “Reconciliação da família portuguesa”. Uma reduzida reabilitação de alguns militantes e quadros alvos das purgas do início da década é feita, como gesto de boa vontade e de abertura de novos horizontes de unidade...

- em Outº de 1956 a Revolta Húngara e a consequente invasão dos tanques soviéticos provoca as primeiras importantes cisões nos sectores intelectuais de alguns países da Europa. Em Portugal, e embora o PC tenha dificuldade em explicar a invasão soviética, os seus efeitos não são significativos.

- todos estes acontecimentos constituem a matéria principal para o V Congresso do PCP, realizado em plena clandestinidade, numa moradia do Estoril, durante uma semana, em Setembro de 1957, juntando cerca de 60 pessoas. (Os detalhes da preparação, da localização, da segurança, do próprio décor e das discussões constitui, para mim, um dos mais fascinantes capítulos do livro. O JPP consegue colocar o leitor dentro do próprio Congresso...)

- por último, em relação a essa época (1956-58), o JPP narra-nos detalhadamente a emergência da Questão Colonial, apresentando-nos um quadro muito detalhado da pré-história dos Movimentos de Libertação das Colónias e do papel dos seus principais dirigentes, em instituições como a Casa dos Estudantes do Império, o Clube Marítimo Africano, o Centro do Estudo Africano. Alguns dos homens e das mulheres que vieram a dirigir o MPLA, a FRELIMO e o PAIGC aparecem nesta época, contando com uma activa colaboração do PCP, que como sempre tenta dirigir politicamente, mas vais ser ultrapassado seja pela dinâmica anti-colonial dos movimentos seja pelas relações directas que alguns deles estabelecem com o PCUS.

E chegamos ao 3º e último período, que começa em 1958 e vai até ao início de 1960, e ocupa dois fascinantes capítulos (13º e 14º), integralmente dedicados às eleições presidenciais de 1958 e ao “furacão” Delgado. Trata-se, para mim, de uma das partes históricas mais vivas e mais interessantes de todo o livro, e mais actuais, não só porque respeita a uma época e a acontecimentos que marcaram um Antes e um Depois na história da Ditadura e da Resistência, marcas que ainda hoje são perceptíveis na nossa vida política, mas também porque é vivida com uma intensidade popular só comparável à do 25 de Abril de 1974. Ao longo de 130 páginas, que se lêem de um fôlego, o JPP conta-nos as vicissitudes das diversas candidaturas de oposição a Salazar e ao seu candidato almirante Américo Tomás (que eleito em 1958 só será deposto pelo golpe de 25 de Abril de 1974), desde a falsa partida e os jogos de bastidores da não consumada campanha de Cunha Leal, à aparição do Gen. Humberto Delgado (proposto por António Sérgio e Henrique Galvão), à candidatura de recurso para o PCP de Arlindo Vicente, a sua posterior desistência e o Pacto de Cacilhas com Delgado, as grandes manifestações do Porto e de Lisboa, a repressão cada dia mais dura e brutal, e o DIA SEGUINTE, para o quel nem o PCP nem a Oposição Democrática se tinham preparado e que após um curto movimento grevista, foi preenchido por dezenas de prisões e pela perseguição a Delgado até o empurrar para o exílio.

É este o pano de fundo histórico que o JPP nos apresenta como as voltas que o mundo foi dando durante os 11 anos que o dr. Álvaro Cunhal esteve preso. Olhemos, por fim, para essa prisão (que o JPP analisa nos caps. 1º, 4º, 5º e 10º).

A 1ª Frase do Livro é muito curiosa, porque é uma frase crística: “Estava consumada a prisão.” No Evangelho 2º S.João, o mais belo dos 4: “quando Cristo tomou o vinagre, disse: está consumado. E inclinando a cabeça, entregou o espírito.” O “martírio” de AC vão ser 11 anos de cadeia, “uma das penas políticas mais longas do séc. XX português, só ultrapassada pela de outros comunistas” (JPP no fim do livro). (embora o isolamento não conste dos outros...)

Após a prisão (25 de Março de 1949) e depois de uma breve passagem pela sede da PIDE no Porto (rua do Heroísmo. Se usasse tal toponímia num filme seria tomado por propagandista!) Militão Ribeiro e Cunhal são transferidos para aqui, para a Penitenciária: preparação das celas do 3º varandim da ala C, sujeição a um regime de isolamento total e incomunicabilidade, regime que era completamente invulgar na época e invulgarmente duro como se imagina. AC terá cumprido 14 meses de prisão incomunicável, mais 8 meses de quase isolamento. Penso que esses números são únicos. A má alimentação e a depressão enfraqueceram ainda mais os dois homens.

Director da Cadeia vs. PIDE. (chega a expulsar da cadeia o chefe de brigada que impediu AC de receber material de escrita: em Novembro, 8 meses depois de ser preso!

Em Janeiro de 1950, com 53 anos e 37 quilos Militão morre.

JPP refere a evocação dessa morte por parte de AC à jornalista soviética Petrova e ficcionando-a no seu livro A ESTRELA DE 6 PONTAS. A morte de MR é também ficcionada no ATC, na descrição da morte da personagem Cesário. Na morgue, a mulher e duas camaradas enfrentam o cadáver e descobrem “um bilhete escrito com tinta acastanhada que mais tarde alguém disse ser sangue”. Cunhal refere a Petrova que não concordava com Militão ter deixado de comer e que se pudesse ter falado com ele o teria exortado a comer. A morte de MR é triste e inglória. E por certo afectou AC, doente e enfraquecido também. Apesar do seu estado e do seu isolamento AC prepara, essencialmente de memória, o seu julgamento. Escolhe o próprio pai, Avelino Cunhal, para advogado (vem a ser assistido pelo dr. Luís Francisco Rebelo).

2 e 9 de Maio: duas sessões de julgamento, no Tribunal Plenário de Boa-Hora, penso que na sala onde foi filmada a cena do julgamento de A FUGA. A sala estava cheia: de PIDEs e polícias à paisana e de gente de Esqª

Detalhe: em curta conversa com amigos fica a conhecer a vitória dos comunistas chineses que tinha ocorrido 7 meses antes e que ele desconhecia!

Fala mais de 10 horas nos dois dias da audiência e transforma a defesa em acusação e em propaganda: fala para os seus camaradas, para quem o possa “ouvir”, sobretudo para a história. Segundo JPP tratou-se de “uma das intervenções de maior ortodoxia de toda a sua vida.” Da longa análise que JPP lhe concede, retiro a defesa do socialismo, da URSS e das Democracias Populares, no contexto do início da Guerra Fria e da nova política da “paz” do Cominform, fala no perigo duma nova guerra, critica a criação da NATO (que marca o fim de um eventual isolamento de Salazar) e arrasa o salazarismo.

No final do seu discurso de defesa proclama-se FILHO ADOPTIVO DO PROLETARIADO. Penso que o foi até à morte, que ocorreu, em meu entender, muito para além da morte dos seus pais adoptivos.

Foi condenado a 4 anos e meio de prisão maior celular ou, em alternativa, 6 anos e 9 meses de degredo. Pena surpreendentemente leve. O STJ agravou-a, diminuindo a prisão maior celular para dois anos mas seguidos de 8 anos de degredo, em alternativa 12 anos de degredo, e aplicando medidas de segurança por 1 ano.

Como escreve JPP: “Cunhal regressa à Penitenciária sabendo que não vai tornar a ser livre tão cedo.”

Para nos falar da experiência carcerária de AC, e para além da citação de textos do próprio Cunhal, JPP convoca Camilo Castelo Branco (que o próprio AC terá lido na cela), Gramsci e Pavese (dos 3, o meu preferido). São páginas de análise fina e sensível, a que se juntam referências fascinantes às gravuras de Piranesi e ao Panopticon, obra de Bentham, teoria que influencia o tipo de cadeia que é esta Penitenciária. O isolamento do prisioneiro é-nos relatado através de uma montagem muito sensível de textos e reflexos que nos aproximam da claustrofobia que aqui reina. Ficamos também a conhecer o encontro de Cunhal com Galvão, que por aqui passou em 1953, as leituras em várias línguas, os estudos e escritos teóricos (sobre política e história, sobre arte e literatura) bem como a própria criação artística (literária e pictórica) a que AC se dedicou quando, quase 1 ano depois de ser preso, poude finalmente receber livros e materiais de escrita e de desenho. (Incluir a tradução do “Rei Lear”) JPP Descreve-nos também as estratégias contra a solidão (a ginástica sueca, de que AC, 2º JPP era adepto, um jogo de xadrez feito com pão, um avião de papel)... e finalmente, quando AC passa para a Enfermaria, as relações com os presos comuns. O próprio AC dará conta de tudo no seu livro “A Estrela de 6 Pontas”.

Em 24 de Janº de 1956 AC termina a pena, mas através das célebres medidas de segurança sabe que essa pena pode ser renovadamente perpetuada.

A lei exigia ao preso a abjuração política para se libertar das medidas de segurança, e quem analisava a declaração e decidida era a PIDE. Em 4 declarações que faz (e que para mim, como penso que para muitos de vós, são uma completa novidade) AC contorna a abjuração (absolutamente impensável para um comunista que se preze) admitindo indirectamente abandonar a actividade política e reorganizar a sua vida privada: na 1ª admite fixar residência em Lisboa, doutorar-se e eventualmente constituir família; na 2ª admite exilar-se no México ou no Uruguai; na 3ª manifesta o propósito de não desenvolver quaisquer actividades contrárias à segurança do Estado; e na 4ª propõe afastar-se de ligações e contactos de natureza política. Estas declarações são não só surpreendentes como, em meu entender, humanizam a figura de AC, para quem a experiência carcerária, sobretudo aqui na Penitenciária, terá sido como é óbvio brutal. Como é que os autos destas declarações sobreviveram à limpeza dos arquivos da PIDE é também curioso...

Em fins de Julho de 1956, após 7 anos de Penitenciária, AC é transferido para Peniche. Aí, não só regressa a um certo convívio, sempre restrito, condicionado e vigiado, mas apesar de tudo convívio com outros presos políticos, e regressa tb. ao Partido. Como descreve JPP, é um AC de cabelos brancos, envelhecido nos seus 42 anos, que regressa ao seio dos seus camaradas.

Ler passagem págs. 438/439 sobre quadro que a mãe lhe pede: um Cristo.

Sobre os 5 anos de Peniche (interrompidos por uma estadia em 1958 de novo aqui na Penitenciária, mas na Enfermaria), o retomar da luta partidária em conflito aberto com a Direcção de Fogaça, que virá a ser implacavelmente criticada pelo seu “desvio anarco-liberal”, e o intenso período criativo sobretudo nos desenhos o melhor é lerem as páginas do JPP, porque elas são fascinantes e reveladoras.

No total, AC passou 11 anos na prisão: como destaca JPP, AC esteve preso dos 35 aos 46 anos: “o período de pujança da idade adulta ficou para sempre soterrado nos anos da cadeia”.

No dia 3 de Janº de 1960, depois de quase 1 ano de preparação, Cunhal e 9 outros camaradas, fogem do Forte de Peniche, naquele que JPP considera ter sido um acontecimento ímpar na história do movimento comunista. Não vou desvendar nada dessa fuga, que ocupa o 15º e último capítulo deste livro, mas se vos disser que ela começou ao som da Sinfonia Patética de Tchaikovski, estou apenas a dizer-vos que esse capítulo final é por si só um grande filme.

Obrigado.

JOÃO TUNES NO ÁGUA LISA (5)

No blogue de João Tunes Água Lisa(5) vários textos sobre a biografia de Cunhal com o título O PCP SEM CUNHAL.

19.12.05

III VOLUME - VERIFICAR - JOGO DE FUTEBOL EM PENICHE NA TARDE DE 3 DE JANEIRO DE 1960

III Volume - pag.s 717, 721 - Gostaria, por uma questão de rigor, lhe apontar uma provável incorrecção. Passo a explicar.

Na página 717, o Pacheco Pereira refere a realização de um jogo de futebol com a participação do Benfica, em Peniche, no dia da fuga, 3 de Janeiro de 1960. Também na página 721 refere que os primeiros 5 prisioneiros se misturam com adeptos que estão a sair do jogo de futebol.

Não consegui saber se efectivamente houve jogo do Benfica em Peniche nesse dia; provavelmente, apenas os arquivos de "A Bola" ou do próprio Benfica possuirão tal informação; no entanto, acho pouco provável, para não dizer impossível, que um jogo de futebol em Peniche, qualquer que ele fosse, muito menos com o Benfica, pudesse terminar de noite, já que, tanto quanto sei, o campo de futebol então existente em Peniche não tinha iluminação; ora, sem iluminação, nenhum árbitro digno desse nome permitiria que um jogo decorresse de noite.

Assim, creio que as pessoas com quem os prisioneiros se misturaram estariam a regressar de qualquer outro espectáculo, mas não de um jogo de futebol.

(José Jorge Abreu)

18.12.05

ALBANO MATOS - OFEREÇA. TRÊS LIVROS

O Natal pode ser quando UM homem quiser, mas o comércio do dito concentrou nesta época o conjunto asfixiante de objectos que obriga metade da população a endividar-se para não passar por pelintra. Recusem essa lógica desenfreada comprem livros. E não venham sequer com o estafado argumento de que os livros são caros. São mais baratos do que um bilhete de futebol e - garanto-vos - a maior parte das vezes proporcionam um espectáculo bem mais agradável.

Caros? Uma leitora atenta, A.R., põe os pontos nos ii "Como se quem produz os livros não tivesse o mesmo direito a ganhar com essa produção, tal como os produtores de roupa, de filmes e de tabaco!"

E A. R. acrescenta "Como é que, por um lado, queremos que se valorize a leitura e, por outro, continuamos a passar constantemente a ideia de que os livros são caros (quando não são, comparativamente a outros artigos) e de que o dinheiro que se gasta em livros é mal empregue?" (...)

[Portugal hoje - O Medo de Existir, de José Gil; e Carlos Santos Pereira Guerras da informação Militares e Media em cenários de crise]

Para ficarmos nos autores portugueses, ofereça o terceiro volume da biografia de Cunhal por Pacheco Pereira, exemplo maior de um género pouco cultivado entre nós e retrato minucioso de um homem, de um partido, de uma época e de um país.

(Diário de Notícias, 18/12/2005)

17.12.05

HOJE NO LIVRO ABERTO (RTPN)

O programa de Francisco José Viegas, Livro Aberto, na RTPN, que inclui uma longa conversa sobre o terceiro volume da biografia de Cunhal, passa hoje sábado, às 23:00; repetindo ao domingo às 13:00; às segundas e quartas às 20:00. Na 2: nas noites de quartas para quinta à 1:30. Na RTP Internacional e RTP África aos domingos, às 05:00 de Lisboa-GMT.

A PROPÓSITO DA BIOGRAFIA DE CUNHAL, A SOMBRA

No Lusitano : A Sombra

A Sombra (Estudo sobre a clandestinidade comunista) não é um livro novo. No entanto, este livro de José Pacheco Pereira parece-me intemporal. Pelo menos, enquanto os conceitos (à portuguesa) de ditadura, comunismo, movimento comunista e luta contra o regime perdurarem na memória colectiva. E ainda mais numa altura em que o terceiro volume da inédita biografia de Álvaro Cunhal, por autoria também de Pacheco Pereira, está ainda fresco e abundante nas livrarias. No entanto, para quem procura encontrar neste livro um auto de sátira acerca do Partido Comunista Português ou sobre os operários, poderá ser um livro decepcionante. A Sombra, assim como a biografia de Cunhal, não segue a via do «revisionismo», como algumas recensões têm dito, buscando construir uma aura de controvérsia em redor de obras de investigação.

É natural que jovens idealistas à direita procurem aqui um Revel, mas A Sombra tem outro cariz. Obviamente, é um estudo despido tanto de preconceito pelos militantes de uma ideologia ou utopia oposta (JPP não estuda o movimento comunista nacional há meia dúzia de dias) como de omissões abundantes nas edições Avante!. JPP faz, a partir de um resumo das raízes da formação dos PC's europeus e do leste («A profissionalização dos revolucionários reduz o diletantismo organizativo, a centralização da direcção conduz a uma unidade de acção, o combate às fracções e o recurso sistemático à depuração levam à constituição de núcleos «duros» e de inteira confiança, a persistente utilização de uma concepção militar e militarizada da política [...] induz efeitos de arregimentação e disposição combatentes»), um aprofundamento que se vai afastando, cada vez mais, da política, daquilo que nós, mais novos, conhecemos por acção política, em prática em regimes democráticos. É um aprofundamento, sobretudo, em direcção à vida das pessoas, dos militantes comunistas clandestinos.

Há duas coisas assombrosas acerca dos homens e das mulheres que «mergulham» (entram na clandestinidade, tornando-se outra pessoa na sociedade): primeiro, que é difícil encontrar a linha que divide o comunista da pessoa em si, pois há, simultaneamente, uma coragem e uma devoção cega que moldam a segunda submetendo-a ao primeiro; em segundo lugar, por mais que se «desça» na hierarquia do partido (porque há um hierarquia, mais forte do que em qualquer ideologia conservadora), o «clandestino» é sempre um braço directo do Partido, isto é, está sempre em contacto com a direcção nos seus actos quotidianos, desde o sair à rua como a escolha das «companheiras», mulheres «em missão» pelo Partido.

Por exemplo, repare-se qundo JPP cita um livro de Silva Marques: «Carlos Brito declarou-me então que eu teria de entregar tudo o que possuía do partido. Disse-lhe que estava de acordo. Mas que guardaria alguma coisa para mim. A minha resposta irritou-o, e, já sem nenhum vestígio da sua anterior amabilidade, de dedo em riste apontado para mim, fez-me saber: "Quem decide é o partido"».

Mas esta agressividade natural do Partido Comunista Português tem uma explicação racional, por vezes até exageradamente racional, o que assusta: é um Partido em luta permanente, em permanente desconfiança, em luta contra o Estado e contra a polícia política, em desconfiança das buscas, investigações e métodos da PIDE/DGS, e até mesmo dos próprios «camaradas» de partido. Daí a tenebrosa «naturalidade» com que acontecem denúncias dentro do Partido, denúncias «antes das denúncias» (uma espécie de mecanismo de defesa), e mesmo as famosas purgas.

Para mais, JPP refere, e eu dar-lhe-ia ênfase, a progressiva simetria PIDE-PCP. Tanto a polícia política de Salazar como o Partido Comunista vão criando os seus mecanismos de defesa e padrões de acção segundo o seu oposto. Por cada homem que a PIDE introduz secretamente nas aldeias ou ruas suspeitas, o PCP retira um homem em risco de ser descoberto («emerge», portanto) e coloca-o, ou a outro, noutro sítio qualquer. É uma luta constante, que ultrapassa de longe os trâmites da política, entre essa polícia e esse partido. Uma luta que, como sabemos, tendeu, pouco a pouco, a ir no sentido da «vitória» da PIDE, sem, no entanto, quebrar a incrível resistência dos comunistas.

O «factor clandestinidade» surge, diz JPP, em 1929, com a «reorganização» partidária de Bento Gonçalves. Essa clandestinidade surge, portanto, para ficar. Para muitos de nós, fica apenas como um imaginário roçando a lenda heróica (cf. «Manuel Tiago», por exemplo) ou como um estrato da história de Portugal vedado, por dentro, aos não-comunistas, aos «gentios» segundo a linguagem revolucionária.

Para quem está familiarizado com os métodos da cosa nostra, da mafia siciliana, o perigoso mundo da clandestinidade poderá parecer um mundo semelhante. Na verdade é. Pelo menos num sentido: nunca se sabe quem é o amigo e quem é o inimigo, portanto o perigo pode vir de qualquer lado. A Sombra deixa-nos um misto de curiosidade por um mundo que, tão cedo, o PCP não deixará a olho nu e de uma certa simpatia por homens e mulheres que (no meu caso, pelo menos) advogam um sonho político quase desumano e dão, literalmente, a sua identidade e a sua vida pela luta por esse sonho. Enfim, o mundo da clandestinidade é, sobretudo, um mundo ingrato, ou, como diz JPP: «há a tendência natural para as coisas correrem mal - a lei de Murphy. Um exemplo exagerado é aquilo que acontece nos pesadelos, em que qualquer acção ou tarefa nunca se conseguem acabar ou realizar porque aparecem sempre "coisas que sobram". Uma tradução paranóica destes sonhos encontra-se numa história de Ray Bradbury em que um criminoso quer apagar as suas impressões digitais e, como não sabe bem onde as deixou, tenta obsessivamente limpar tudo, sem nunca conseguir acabar, até que a polícia chega». Como eu dizia, é um mundo ingrato...

[João Silva]

SUGESTÕES DE NATAL NO "MIL FOLHAS" DO PÚBLICO

Álvaro Cunhal Uma Biografia Política. O Prisioneiro

"Marco incontornável na historiografia sobre o século XX português, acabou de sair o III volume da obra de Pacheco Pereira "Álvaro Cunhal Uma Biografia Política. O Prisioneiro", editado pela Temas e Debates. A obra incide nos anos 50, mais concretamente entre a prisão de Cunhal, no Luso, em 1949, e a fuga de Peniche, em 1960. Através desta década em que Cunhal esteve preso, primeiro na Penitenciária de Lisboa, depois em Peniche, Pacheco Pereira faz a análise histórica do que foi o PCP nesses anos, bem como do que foram os movimentos de oposição. E revela documentos inéditos ou raros do PCP nesta época. Assim como sistematiza a acção das direcções sem Cunhal onde sobressaem homens como Júlio Fogaça ou Octávio Pato. Uma obra a ler e a reler, a comprar e usar como lugar de consulta e reserva da memória do Portugal do século XX. "

(S.J.A.)

MIGUEL PORTAS - SOBRE A BIOGRAFIA DE CUNHAL

Nos que fizeram a estrada da esquerda para o centro e a direita, Pacheco Pereira é, a vários títulos, a referência mais sólida. Porque, para lá da espuma dos dias, o seu objecto de trabalho é a história do "lado" que um dia deixou. E nesse trabalho tem o mérito de não ajustar contas. Investiga, indaga, colecciona, articula, veste a pele e ensaia respostas às interrogações que o tempo coloca. A sua biografia de Álvaro Cunhal é um notabilíssimo documento. Não é "a" história do PCP. Mas é, seguramente, a melhor história que sobre o PCP até agora se fez. Pacheco Pereira historiador não merecia a triste nota que a Secção de Imprensa do PCP recentemente lhe dedicou, acusando-o de "uma pretensa investigação cujo objectivo é inocentar a PIDE e criminalizar o PCP". Esta e outras barbaridades sobre o "branqueamento do fascismo" constam dessa nota digna dos anos 50 e que prova, à saciedade, como o estalinismo renasce na Soeiro Pereira Gomes, mal se interroguem verdades sagradas, ou se investigue sobre os aspectos menos honrosos que a história de qualquer corpo humano inevitavelmente comporta.

Se em vez de notas como esta, o PCP abrisse os seus arquivos à investigação dos historiadores, faria bem melhor. Porque os comunistas portugueses não têm que se envergonhar da sua história. Partidos com histórias bem mais complexas, do ponto de vista do equilíbrio entre sombras e luzes, abriram os seus arquivos. O último a fazê-lo, bem recentemente, foi o Partido Comunista Francês.

(Diário de Notícias, 17/12/2005)

15.12.05

A BIOGRAFIA DE CUNHAL NO PRÓXIMO "LIVRO ABERTO" (RTPN)

O próximo programa de Francisco José Viegas, Livro Aberto, na RTPN, inclui uma longa conversa sobre o terceiro volume da biografia de Cunhal

De A Origem das Espécies:

Cinquenta minutos para falar de Álvaro Cunhal. Uma Biografia Política (Temas & Debates), o terceiro volume da biografia, dedicado ao período entre 1949 e 1960, ou seja, aos anos da prisão. Temas em cima da mesa: o julgamento de Cunhal, a passagem pela Penitenciária de Lisboa, as marcas da prisão na vida de Cunhal, o afastamento entre Cunhal e o PCP durante os anos de Júlio Fogaça, e, naturalmente, o tema polémico das execuções de membros do PCP durante os anos cinquenta.

O Livro Aberto é emitido na RTPN aos sábados, às 23:00; aos domingos às 13:00; às segundas e quartas às 20:00. Na 2: nas noites de quartas para quinta à 1:30. Na RTP Internacional e RTP África aos domingos, às 05:00 de Lisboa-GMT (menos duas horas em São Paulo).

PAULO PENA - O COLOSSO DE PACHECO (VISÃO, 1/12/2005)

O novo volume da biografia de Cunhal aborda algumas das questões mais delicadas da história do PCP: das execuções às purgas

Afinal, de onde vem o mito Álvaro Cunhal? A imagem marcante, quase lendária, do dirigente comunista, foi em grande medida forjada no período em que Cunhal esteve preso, sublinha José Pacheco Pereira, no terceiro volume desta Biografia Política, O Prisioneiro (ed. Temas e Debates, 748 páginas). Desde os anos 50, essa imagem do «melhor português», o verdadeiro «democrata», moldou a figura do advogado preso no Luso para os mais jovens, que nunca chegaram a conhecê-lo, senão após o 25 de Abril de 1974. «As campanhas pela libertação de Cunhal, repetindo--se ciclicamente desde 1953, foram elementos fundamentais para a criação da mitologia (...) no movimento comunista e nos meios do ‘contra’ em geral. (...) Nos retratos desenhados que se publicam nessa altura – e os desenhos são então mais importantes do que as fotografias, até porque estas eram mais antigas e não as havia recentes –, Cunhal aparece sempre mais novo do que já então era, com um ar um pouco de criança séria e triste, mas com um aspecto duro e decidido. Esta iconografia dá um rosto a quem o não tinha.»
Este é, então, um período de tempo em que o biógrafo se aventura por um quotidiano sem «história aparente», «feito da repetição dos mesmos gestos vigiados, numa sucessão de horas, dias e anos, confinado em duas prisões de alta segurança: a Penitenciá-ria e o Forte de Peniche». À VISÃO, Pacheco Pereira adianta que este foi o livro mais difícil: «Foi extremamente trabalhoso, quase como fazer renda... É um período sobre o qual quase não há fontes.»

Não se julgue que este livro não procura encontrar nessa rotina matéria para boas descrições e curiosas revelações sobre a atitude e a vivência íntima de Cunhal nas prisões do regime. Contudo, para ultrapassar esta ausência de actos públicos de Álvaro Cunhal, Pacheco Pereira opta por mostrar, em pormenor, a história, paralela, do comunismo português. «Não é possível escrever uma biografia de Cunhal sem ao mesmo tempo interpretar a história do PCP», adverte o autor, na nota introdutória. Pacheco Pereira fá-lo, recorrendo a todas as fontes disponíveis, como os testemunhos obtidos junto de importantes dirigentes e ex-dirigentes comunistas e a documentos organizativos do partido. Sendo o primeiro livro desta biografia publicado após a morte de Álvaro Cunhal, continua a ser uma obra «presa às fontes».

Os negros anos 50
O livro começa com uma frase que dá o mote para o período mais negro da vida do dirigente: «Estava consumada a prisão. Os presos, Álvaro Cunhal, Militão Ribeiro e Sofia Ferreira, foram de imediato levados para o Porto.» Ali, continua o relato, cativante, começa o calvário dramático dos três presos políticos, capturados numa operação policial no Luso. Começa o isolamento e a tragédia particular do ex-tarrafalense Militão Ribeiro (que morre na prisão). Segue-se a defesa de Cunhal no Tribunal Plenário, de improviso, várias horas, defendendo, ideologicamente, o comunismo e colocando no banco dos réus os acusadores e a ditadura. O que sobra da direcção comunista refaz a sua estratégia.

Um dos aspectos mais interessantes deste livro é o da luta contínua, a partir de 1949, entre os vários elementos da direcção comunista (sobretudo a subida, contestada, de Júlio Fogaça ao Secretariado) e a ruptura com a oposição não comunista (Cunha Leal, António Sérgio, Norton de Matos). Estes dois movimentos estão na origem da mais conhecida inflexão do PCP: o «desvio de direita» que só terminará quando Cunhal e os restantes evadidos de Peniche, já na década de 60, iniciam o caminho que culminará, em 1964, com o documento central da estratégia comunista: o Rumo à Vitória.

Entretanto, há que sobreviver à década de 50, a todos os títulos, um período de refluxo e de ressaca. Pacheco Pereira traz à luz as circunstâncias pouco claras dos assassinatos de Aurélia Celorico, Manuel Lopes Vital e do ex-membro do Comité Central, Manuel Domingues. A morte destes três militantes com responsabilidades na organização nunca foi, cabalmente, explicada, e decorre num período em que as «traições» (entrega de nomes e factos à PIDE) abalam a confiança na organização clandestina. É também um período de «purgas» na cúpula e de afastamento de alguns sectores intelectuais.

É neste cenário, pouco auspicioso, que vão decorrer alguns dos acontecimentos mais relevantes para a história do comunismo, como o XX Congresso do PC da União Soviética, com as suas críticas a Estaline, e a invasão da Hungria pelo Exército Vermelho. Em Portugal, são os anos em que desponta a «questão colonial» e, em 1958, «o ‘furacão’ Delgado». Quando Cunhal e os restantes nove dirigentes do PCP se evadem do Forte de Peniche, em Janeiro de 1960, o mundo mudara, e muito.

ESGOTADO

No Inacessível:

Livraria Bertrand, Chiado
"Bom-dia, não têm a biografia de Cunhal por Pacheco Pereira?"
"Está esgotada na editora. Nós já vendemos todas as que recebemos"
"Gee, foi rápido, não foi?"
"Sim, muito rápido" - responde o homem com um sorriso de meio-desespero, ou de meio-espanto, ou de "como seria de esperar", não percebi bem.

CONVERSA SOBRE A BIOGRAFIA DE ÁLVARO CUNHAL NA LIVRARIA DA PRAÇA (VISEU) 2

Fotografias em Livraria da Praça.


Entre os presentes, participantes nas campanhas eleitorais de Arlindo Vicente e Humberto Delgado, que contaram algumas recordações desses tempos, e um dos "albergantes", se assim se pode dizer, de Jaime Serra, "caixeiro viajante", na clandestinidade. Uma boa conversa.

12.12.05

CONVERSA SOBRE A BIOGRAFIA DE ÁLVARO CUNHAL NA LIVRARIA DA PRAÇA (VISEU)

Na terça-feira, dia 13, às 15.30.

Pormenores em Livraria da Praça.

II VOLUME - LOCAIS ONDE ESTEVE ESCONDIDO CUNHAL NOS ANOS QUARENTA

Cunhal viveu algum tempo em Vila do Conde, antes da prisão no Luso, em casa de António Simões, alfaiate e militante do PCP, de quem fui amigo, e que esteve preso com o Agostinho Neto (processo dos 58). Nesta casa chegaram também a estar partes de uma tipografia do Avante. O pitoresco da história é o seguinte:

Ao lado da casa do Simões havia um colégio religioso para raparigas, dirigido pela madre Botelho. Na esquina deste colégio, ou na da própria casa onde vivia o Simões, já não me lembro, havia umas «alminhas». A madre Botelho via o Cunhal sair de casa, o «primo» do Simões, com quem tinha trato cordial e que sabia herege, e via-o tirar o chapéu, inclinar-se perante as «alminhas» e benzer-se. E comentava para o Simões: «Ah, sr. Simões, que pena o senhor não ser como o seu primo, tão religioso!».

António Simões emigrou para o Canadá, onde já tinha um filho, nos anos 60, acossado pela polícia. Levou a mulher e mais dois filhos, e lá morreu depois do 25 de Abril. Está sepultado em Vila do Conde.

(João Paulo de Oliveira)

MARIA LÚCIA LEPECKI - BILHETE (LONGO) AO AMIGO

Meu caro Pacheco Pereira:

Para começar, uma confidência: em mais de trinta e oito anos de exercício de crítica, por três vezes me aconteceu ser compelida a apreciar um livro (em textos para jornais) não exactamente num artigo, mas em forma de carta. Com esta que lhe escrevo, a quarta, chego à média de uma “epístola ao autor” a cada nove anos e qualquer coisa. Nada que se veja, mas de qualquer forma regista-se.
Você me perguntará o por quê da forma epistolar, a resposta nada tem de segredo. Quando um livro não sai de dentro de mim, ou não saio eu de dentro dele, querendo, contudo, dizer o que penso e sinto, o único recurso é ficcionar um face a face com o autor, uma conversa sem maiores implicações, é puro desejo de diálogo.

Já tive oportunidade de lhe dar a saber, aquando da publicação do primeiro volume de Alvaro Cunhal- uma biografia política, a profundíssima impressão que esse passo inaugural do seu trabalho me deixou. Corri depois, para o segundo volume, e, há poucos dias, para o terceiro. A “profundíssima impressão” manteve-se, essa sua obra integra já, de pleno direito, a minha memória dos grandes textos biográficos que ao longo da vida fui conhecendo. Porque eu, outra confidência, sou muitíssimo chegada a biografias, são coisas que nos acontecem…
Sobre dois ou três aspectos do último volume eu gostaria de falar consigo, não garantindo, contudo, que por dois ou três me ficarei: tal como as cerejas, as ideias tamém saem em penquinhas quando estamos a puxar apenas uma. Mas logo se verá, e entretanto vou passando ao que interessa.

Gostava de dizer, preto no branco e antes do mais, que o seu trabalho sobre Alvaro Cunhal é, no meu entender, perfeitamente extraordinário, por várias razões. Pelo investimento na investigação, pelo cuidado permanente na referência de fontes ( em notas de rodapé), pelo planear da narrativa. Acresce a isto a sensibilidade para trazer pormenores (sempre fundamentados em documentação) que vivificam as figuras humanas, tornando-as pessoas, para além de personagens históricas. Como se não bastasse, você também torna palpáveis, visíveis ( em segmentos descritivos) muitos dos lugares onde se passam os factos. Resulta de tudo isto, para além de um retrato e de uma biografia de Alvaro Cunhal, um espantoso quadro da atmosfera do Portugal fascista, daquele país soturno, lúgubre, claustral, que felizmente já não é o nosso há mais de trinta anos . Espanta-me e comove-me no seu livro o equilíbrio entre a postura do historiador e a subtilíssima presença de uma emocionalidade nascida do que entendo ser a sua admiração pela pessoa do seu biografado e das muitas outras que, junto com ele, fizeram uma parte tão absolutamente importante da História de Portugal no século XX. Um grande livro, Pacheco Pereira, um trabalho de paciência, de persistência, de extraordinária dedicação. A ele se aplica, com inteira justiça, um adjectivo: monástico.

Para fazer a biografia de Cunhal, você teve de conviver com, e administrar o,“ dilemma of portraying change within a framework of permanence” , para recordar palavras de quem entende da questão e dela se ocupou. Bom convívio e boa administração resultam naquilo que o seu leitor vê: ao lado da vida política de Alvaro Cunhal aparece um seu retrato, mais pessoal, que o Pacheco Pereira constroi ( sem dizer que o está fazendo), abordando um outro lado da personalidade do biografado: aquele onde o homem politico e o homem “pessoal” ( passe a expressão) se tornam mais nítidos, mais “palpáveis” – e definitivamente mais completes, pela consideração da obra plástica e ficcional de Cunhal. São sequências crítico-analíticas muitíssimo interessantes e reveladoras da sua ( de você) extrema, e cultivada, sensibilidade artística.
Como não podia deixar de ser, porque ninguém vive sozinho, a biografia de Álvaro Cunhal arrasta consigo outros percursos de vida ( e, até, outros retratos, embora mais delidos). Acompanhamos, então, outras e numerosas figuras ( dirigentes ou simples militantes) do PCP da época, ou antigos militantes,ou amigos e apoiantes de vários quadrantes. No cômputo final, o seu livro está cheio de personagens, que rodeiam o protagonista em planos sucessivamente mais recuados, até se tornarem sombras na linha do horizonte. Cada um deles tem o seu papel, nenhum deles foi dispensável para a construção daquela vida a que você, com razão atribuiu ( na sessão pública na livraria FNAC) uma “estrutura de tragédia”.

Devo referir que você retrata, ainda ( como é natural e obrigatório), o regime e os seus muitos braços. Tem o seu livro então, ao que creio , dois grandes movimentos. Um vai na direcção do centro da sua atenção, Alvaro Cunhal. O outro movimento alarga-se até os mais remotos limites das vivências portuguesas da época, pois esta é uma história que, dizendo respeito a um, o biografado, importa a toda a comunidade nacional. O ir e vir entre o centro e a periferia, a implicação absoluta do particular (Cunhal) no processo histórico do colectivo dá ao seu trabalho, Pacheco Pereira, uma dimensão épica que, sendo sem dúvida adequada ao assunto, nem por isso perde em capacidade de mobilizar a emoção e a inteligência do leitor. E o modo específico da organização discursiva deste terceiro volume ( e, aliás, dos que o precedem) empresta uma extraordinária grandeza a todos os eventos, a todos os sofrimentos, a cada uma das emoções que terão, ou poderão ter sido, experimentadas pelas personagens.

Sobre a dimensão ( ou atmosfera, se você preferir) épica desse terceiro volume, mais um pormenor, antes de terminar. No fecho, precisamente no último parágrafo , você conjuga, de maneira magistral e muito comovente, as dimensões humana e política de Álvaro Cunhal. Lendo esse fecho, o leitor enxerga, retratado como pessoa inteira ( porque feita também de afectos, amores), o lutador e o politico que tinha vindo a conhecer ao longo de mais de seiscentas páginas. As suas palavras, Pacheco Pereira, são assim:
Com quarente e seis anos, a sua [de Cunhal] vida pessoal mudaria significativamente a muito curto prazo_ irá conhecer uma companheira e ter dela uma filha. A sua acção política levará Cunhal a tomar de novo conta da Direcção do partido e à afirmação indiscutível, nas décadas de sessenta e setenta, como um dos grandes dirigentes comunistas mundiais, internacionalmente reconhecido, cujas decisões moldaram a história de Portugal e das colónias portuguesas até ao dia de hoje.
Uma nova companheira, uma filha e a afirmação como grande líder comunista mundial :eis, meu caro amigo, o que eu chamo “ final solar”, voltado para a vida e para o futuro. Uma pessoa lê e mais uma vez se comove por causa de Cunhal, mas também por causa de quem com tanto rigor e tanta beleza lhe soube escrever a história. E dentro da moldura que na nossa memória circunscreve o livro ficará também o seu retrato, Pacheco Pereira, ao lado do rosto do homem cuja vida você quis contar.

Aí tem você um pouco do que gostaria de conversar consigo. E aqui tem o meu abraço

(Maria Lúcia Lepecki)

11.12.05

CONVERSA SOBRE A BIOGRAFIA DE ÁLVARO CUNHAL COM MARIA LÚCIA LEPECKI 3

No Defender o Quadrado

Receita para fazer um herói

Toma-se um homem
Feito de nada como nós
Em tamanho natural
Embebece-lhe a carne
De um jeito irracional
Como a fome, como o ódio

Depois perto do fim
Levanta-se o pendão
E toca-se o clarim...

Serve-se morto

(poema de Reinaldo Ferreira)

Assisti, na FNAC do Colombo, a uma pequena conferência com o Pacheco Pereira, Lúcia Lepecki e uma representante da "Temas e Debates", a propósito do 3º volume da biografia política não autorizada de Álvaro Cunhal. Para quem, como eu, ainda não leu este volume, ficou com intensa curiosidade de o fazer, tal a excelente apresentação que Lúcia Lepecki fez. Pacheco Pereira discorreu sobre Álvaro Cunhal, o PCP, a clandestinidade, os mitos, a história oficial e a verdadeira, enfim, um conhecimento profundo, um interesse enorme, um trabalho monástico, como lhe chamou Lúcia Lepecki.

É, de facto, uma importantíssima parcela da história contemporânea de Portugal que Pacheco Pereira tem investigado, apesar das dificuldades do secretismo, que ainda persiste, e das paixões extremadas a favor e contra Álvaro Cunhal e o ideário comunista.

(Sofia Loureiro dos Santos)

FOTO EM APOIO AO CAP. 13 - ACTIVIDADES DA OPOSIÇÃO À VOLTA DA CAMPANHA ELEITORAL DE NOVEMBRO 1957

Da esquerda para a direita: x (Mário Sacramento?); Manuel João da Palma Carlos; Câmara Reys; x ("Lília da Fonseca"?); Manuel Sertório.

I VOLUME ERRATA - LEGENDA - Pag. 457






A legenda desta foto refere erradamente que Cunhal está na Praia Grande. Na realidade, como se pode ver pelo murete ainda existente, Cunhal está na Praia das Maçãs.

LIVRO DE PAPEL DE MORTALHA USADO PARA ENVIAR MENSAGENS CLANDESTINAS DA PRISÃO

II VOLUME - PRIMEIRA NOITE DE CLANDESTINIDADE DE SOEIRO PEREIRA GOMES E ATILANO DOS REIS ("JORGE REIS")

II Volume - pag. 430 - Na descrição da primeira noite de clandestinidade de Soeiro Pereira Gomes, segundo Jorge Reis, não dormiram no chão, mas sim numa pequena cama de ferro, deitados na lateral da cama para caberem todos. Ainda segundo esta minha fonte, passaram (Soeiro e Jorge) parte da noite a falar, por entre uma tremenda e quase consecutiva crise de choro de Soeiro. A mesma cena havia-se passado junto á casa do mesmo, agarrado à mulher, perante a aflição de Jorge que sabia ter a polícia à perna.

(Carta de Hermínio F. Nunes, 14/7/2001)

10.12.05

CONVERSA SOBRE A BIOGRAFIA DE ÁLVARO CUNHAL COM MARIA LÚCIA LEPECKI 2

Hoje, na FNAC Colombo, o autor, a dr. Guilhermina (representante da Temas e Debates) e a Prof. Maria Lúcia Lepecki, que fez a apresentação do livro.

O texto de Maria Lúcia Lepecki será em breve publicado.

9.12.05

CONVERSA SOBRE A BIOGRAFIA DE ÁLVARO CUNHAL COM MARIA LÚCIA LEPECKI

No sábado, 10 de Dezembro, às 17 horas, haverá uma conversa sobre a biografia de Álvaro Cunhal, com Maria Lúcia Lepecki e o autor, na livraria da FNAC no Centro Colombo.

NO INCURSÕES

Suplememento especial a estes dias que passam

Pode-se não gostar do Pacheco Pereira. Mas não ler a impressionante biografia política de Álvaro Cunhal por essa razão é asneira supina e definitiva.
Isto é uma história política do Portugal moderno, ou seja do Portugal de 30 a ...(para já vai até 1960). Se eu fosse o Bernard Pivot de que o José fala num comentário aos "dias que passam" prometeria devolver o dinheiro a quem não gostasse. Não o sou mas teimo em advertir que não percam este 3º volume. São 700 e tal páginas por menos de 30 €. Na Fnac fica por 27.

FRANCISCO JOSÉ VIEGAS NA ORIGEM DAS ESPÉCIES

E portanto. De alguma maneira, e por uma boa circunstância, senti-me sempre ligado à edição da biografia de Cunhal, escrita e investigada por José Pacheco Pereira (edição Temas e Debates). Este volume, mais uma vez, é uma das grandes leituras do ano.

É verdade. Foi numa conversa com Francisco José Viegas, sobre um projecto de jornal que falhou, que a ideia da biografia surgiu, assim como os primeiros contactos com o Círculo de Leitores.

NO TOP LIVRO

8.12.05

INCONGRUÊNCIAS POR FALTA DE UNIFORMIZAÇÃO

1. No II volume refere-se (pag. 859) que Manuel Domingues é operado no Hospital de S. Francisco, enquanto no III volume (pag. 78) é indicado o Hospital da Ordem Terceira. Na verdade, é o mesmo hospital, o Hospital da Ordem Terceira de S. Francisco em Lisboa. Onde há uma incongruência real, que terá de ser verificada, é na data da operação, se foi em princípios de 1949 ou no segundo semestre.

2. O Forte de onde fogem Almeida Santos e os seus companheiros é referido uma vez (III volume, pag. 694) como sendo o Forte da Graça, e outra (pag. 705) como Forte de Elvas. É o mesmo Forte, na colina da Graça, a quilometro e meio de Elvas.

(Notas sobre as observações de um leitor)

I VOLUME - ERRATA - PREFÁCIO

Há [...] um problema com o índice remissivo, quando este se refere a páginas do prefácio. Assim, por exemplo, segundo o índice remissivo há uma referência a Francico Ferreira na página VIII e uma a Carolina Loff na página XV, mas tratam-se de facto das página XII e XIX respectivamente. Não estive a ver sistematicamente, mas quer-me parecer que o desfasamento é sempre de quatro páginas.

(José Carlos Santos)

III VOLUME - ERRATA - Pag. 42

No texto do observador inglês do julgamento de Cunhal: "permitirá voluntáriamente permitir" é "poderá voluntariamente permitir".

DALILA CABRITA MATEUS - NOTAS E CORRECÇÕES

1. O engenheiro Arandes não terá pertencido à Liga Antifascista Portuguesa. É facto que a polícia considera que sim. Contudo, numa entrevista que lhe fiz (uma das 40 entrevistas que conto publicar em breve) nega-o terminantemente. Poderá encontrar essa entrevista, por exemplo no ISCTE, junto à minha tese de doutoramento.

2. Não é certo que eu tenha entrevistado João Mendes. A entrevista referida encontra-se no Arquivo Histórico de Moçambique. E é um fraco documento, pois o entrevistado encontrava-se muito debilitado. (III VOLUME - CORRIGENDA - Pag. 511 - Nota 21)

3. Estou perfeitamente de acordo consigo no que respeita a Lúcio Lara. É, aliás, caricato que se apresente como observador. Observador no Congresso clandestino de um partido, não lembra ao diabo. Não é caso único. Marcelino dos Santos e Agostinho Neto também negam ter sido comunistas. O próprio Vasco Cabral dizia não poder confirmar ter sido comunista, «sem falar com o PC». Outros, que não eles, afirmam serem eles comunistas. Ainda agora, num livro dedicado a Neto, Júlio Pequito afirma que os quatro estudantes que viviam na mesma casa em Lisboa (ele, um irmão de Pereira Gomes, Veiga de Oliveira e Neto) eram todos membros do PC.

EDUARDO PITTA - CUNHAL. OS ANOS DE CHUMBO

(No Da Literatura)

Quem gosta de biografias conhece os protocolos atinentes. As melhores (quero eu dizer: as de escrutínio minucioso) raramente primam por uma escrita exaltante. O inventário dos detalhes e a exigência de rigor histórico não se coadunam com assomos de liberdade criativa. Exemplos? As obras de Martin Gilbert e Robert Dallek sobre, respectivamente, Churchill e Kennedy. Cito-as por serem paradigmáticas e por estarem ambas traduzidas em Portugal. Vem isto a propósito da recente publicação do terceiro volume da biografia de Álvaro Cunhal, obra do historiador José Pacheco Pereira (n. 1949). Um leitor desapaixonado intui o óbvio: quando estiver concluída, esta biografia constituirá, de facto, uma história do Partido Comunista Português. Em momento algum o enfoque no líder desaparecido restringe o campo de análise. Discurso directo: «Não é possível escrever uma biografia de Cunhal sem ao mesmo tempo interpretar a história do PCP e, no seu sentido mais lato, da oposição ao regime ditatorial.» O livro abre com a prisão de Cunhal, no Luso, em Março de 1949, e termina com a sua fuga da cadeia do Forte de Peniche, em Janeiro de 1960. Seccionado em várias áreas temáticas, este terceiro volume permite um exaustivo tour d’horizon: prisão, julgamento, desenhos e leituras, Cinco Dias, Cinco Noites; os imbróglios do Secretariado; traidores, expulsões, assassinatos; a campanha de Ruy Luís Gomes; a purga dos intelectuais; o jornal LER e a revista Vértice; as greves e jornadas de luta; a morte de Staline; a marca de Fogaça; o impacto do XX Congresso do PCUS; a ocupação soviética da Hungria; o congresso clandestino de São João do Estoril, em 1957; o comunismo nas colónias (muito interessantes as onze páginas dedicadas a Moçambique); o «caso» Delgado; a fuga. O volume inclui quatro índices: o geral, o remissivo, o das siglas, e o de pseudónimos e nomes falsos. Ficamos a saber que Mário Soares foi «Fontes»; Óscar Lopes terá sido «Queiroz»; etc. Abundante iconografia em tom sépia (retratos, fotografias, reproduções de pintura, listagens) dá a cor de época. Por razões fáceis de compreender, «passam» nestas 748 páginas inúmeros escritores e artistas: Abel Salazar, Alves Redol, António José Saraiva, Fernando Lopes-Graça, Ferreira de Castro, José Régio (com quem Cunhal polemicou), Júlio Pomar, Manuel da Fonseca, Maria Lamas, Mário Sacramento, Natália Correia, Nikias Skapinakis, Soeiro Pereira Gomes, Papiniano Carlos, Urbano Tavares Rodrigues, etc. Não sei se, como diz Soares na contracapa, esta biografia ficará «a ombrear com a monumental e clássica trilogia sobre Trotski de Isaac Deutscher», porque nunca a li, mas uma coisa sei: Álvaro Cunhal. Uma Biografia Política é uma obra de referência incontornável (passe o chavão). A ler, absolutamente.

(Eduardo Pitta)

SÃO JOSÉ ALMEIDA - CRÍTICA AO III VOLUME (PÚBLICO, 8/12/2005)

QUANDO CUNHAL TENTOU ENGANAR A PIDE

Ao declarar ser sua intenção proceder de acordo com a Constituição e as leis em vigor, está expressa a intenção de não participar em quaisquer actividades consideradas por lei como delituosas. Mais precisamente, é sua intenção afastar-se de todas as actividades de natureza política e afastar-se, portanto, de "ligações" e "contactos" com quaisquer pessoas que, para isso, o pudessem solicitar." A passagem citada, em que Álvaro Cunhal aparece como tentando enganar a PIDE e convencê-la de que se afastaria da actividade política, de modo a conseguir a sua libertação - noutro momento admitiu emigrar para o México ou o Uruguai -, pertence a um auto de declarações de Álvaro Cunhal à PIDE, datado de 2/11/1959 e que vem citado no III volume da obra Álvaro Cunhal Uma Biografia Política O Prisioneiro (1949-1960), da autoria de Pacheco Pereira, recentemente editado pela Temas e Debates.

Com a publicação de mais um volume da sua redutoramente denominada biografia política de Álvaro Cunhal, Pacheco Pereira prossegue assim a sua missão de serviço público que é na verdade esta obra, a qual se assume como incontornável para caracterizar historicamente o século XX português. A tarefa ciclópica a que Pacheco Pereira dedicou anos, se não décadas de investigação, e que começou a ser publicada em 1999 (o II volume saiu em 2001), prossegue agora com uma abordagem da década de 50.
Partindo mais uma vez da vida de Cunhal, Pacheco Pereira volta a ir bem além do objectivo expresso e a fazer a história do PCP, bem como a abordar a actividade da oposição antifascista à ditadura de Oliveira Salazar. E, mais uma vez, consegue a proeza de aliar o rigor científico da reconstituição historiográfica dos factos e de citação de documentos e depoimentos a uma capacidade de escrita e de narrativa que envolve o leitor desde o primeiro momento. Volta a usar, para isso, o arquivo da PIDE, arquivos internacionais, arquivos pessoais. Depoimentos exclusivos, dos quais se destaca o escrito de Jaime Serra e o de Joaquim Gomes. E ainda que o PCP oficialmente continue a não colaborar com esta obra nem a disponibilizar os seus arquivos, é visível neste III volume que não oficialmente diversos dirigentes e funcionários da clandestinidade estão a colaborar com Pacheco Pereira, até porque já perceberam que, mesmo contra a vontade da direcção do partido, esta história do PCP vai ficar para a história.
Neste volume, a proeza é tanto mais de sublinhar quanto se trata de uma década em que Cunhal está preso. O volume começa, aliás, com a sua detenção no Luso, em 25 de Março 1949, em conjunto com Militão Ribeiro e Sofia Ferreira, e com o seu julgamento entre 2 e 9 de Maio 1950, e termina com a fuga de Peniche a 3 de Janeiro de 1960 - ou seja, como contar a história de um homem cuja actividade durante 11 anos se concentrou entre as paredes, primeiro, da Penitênciaria de Lisboa e, depois, as do Forte de Peniche?

Busca da unidade e isolamento

O resultado é a sistematização de uma década decisiva da história da oposição ao fascismo com a abordagem dos grandes momentos eleitorais e de movimentos de oposição, com a falência da unidade e o isolamento do PCP no MDN e na candidatura de Ruy Luís Gomes, em 1951, assim como nas eleições de 1953 e 1957 para a Assembleia Nacional e, depois, a unidade forçada em torno de Humberto Delgado, já com o PCP a abrir mão do papel determinante e dos seus sucessivos candidatos, Cunha Leal e Arlindo Vicente. Saliente-se neste aspecto a forma como são pormenorizadamente tratadas a onda grevista pós-Delgado e as polémicas, no início da década, entre a linha oficial do PCP e ex-militantes e intelectuais antifascistas liderados por Piteira Santos - a importância histórica de Piteira Santos é retratada com propriedade por Pacheco Pereira - na revista Ler e na Vértice.
Mas não só os momentos eleitorais sobressaem na análise histórica de Pacheco Pereira. Saliente-se também a preocupação na reconstituição da génese dos movimentos de libertação das colónias, nomeadamente em Moçambique e em Angola, e a forma como o PCP esteve ou não esteve ligado a essa génese, directamente ou através de militantes seus entretanto desligados organicamente do partido. No plano internacional, está também presente a história do Movimento Comunista Internacional e a viragem radical operada pelo XX Congresso do PCUS, que vai repercutir-se nos partidos comunistas da Europa, como o PC francês e o PC espanhol.


Fogaça, a alternativa

Sob o pano de fundo internacional e nacional, Pacheco Pereira traça uma aturada e documentada história do PCP na década de 50. Uma década em que Cunhal não está na direcção, sendo mesmo afastado do comité central no V Congresso em 1957. É a década de Júlio Fogaça. Até certo ponto, este III volume da biografia política de Cunhal é também uma biografia de Júlio Fogaça, o outro grande dirigente do PCP que rivalizou com Cunhal e acabou por perder após a fuga de Cunhal de Peniche e a sua reconquista do poder no PCP. Pacheco Pereira apresenta em toda a sua dimensão intelectual e política o líder alternativo a Cunhal, que dominou o partido ao longo da década de 50 e que beneficiando dos ventos da história e da revolução Krutchov, reescreveu a orientação política do PCP, adoptando a política de "solução pacífica", que mantinha a continuidade da "política de transição" defendida por si no Tarrafal, nos anos 40, e que fora derrotada por Cunhal no IV congresso, em 1946. Uma linha política que será posta em causa no fim da década fruto da desilusão pós-Delgado e da onda de prisões que o PCP sofreu, devido à colaboração com a PIDE de alguns militantes presos, factos que provocaram uma crise que facilitará a reconquista do partido por Cunhal, no início dos anos 60, e a derrota definitiva de Fogaça.

Pacheco Pereira dá a dimensão de Fogaça não só ao apresentá-lo como o autor do primeiro programa do PCP, como por exemplo nas teorizações sobre o problema agrário em Portugal, que irão desembocar, até pela posição divergente que Cunhal tem sobre o mesmo problema, na construção do pensamento que irá, décadas depois, estar subjacente à Reforma Agrária. O retrato de Fogaça e o seu perfil de líder está presente ao longo de todo o III volume e sobressai logo nos capítulos sobre o início da década, em que o PCP viveu purgas sucessivas, numa orientação em que foi determinante, por exemplo, José Gregório. É aí relatada, de forma documentada e pormenorizada, a forma como Fogaça foi obrigado a autocríticas sucessivas para ter direito a voltar a integrar o secretariado e a forma como o faz e engole a gravata em nome do objectivo da conquista do poder interno. Isto num dos períodos mais negros da história do PCP e em que este partido mais se isolou e viu a sua estrutura clandestina sofrer erosão.
É precisamente sobre as purgas internas e o período de paranóia persecutória que se viveu no PCP no início dos anos 50 que este volume é também importante. Não só pelo modo como retrata as levas de expulsões, mas também pela forma como aborda a existência de assassinatos de militantes. Abordando três casos, Aurélia da Conceição Celorico, Manuel Lopes Vital e Manuel Domingues, Pacheco Pereira nunca é absolutamente conclusivo na culpabilização do PCP, como, aliás, não podia ser numa obra desta natureza. Mas deixa os dados todos e regista o quadro da época, para confirmar aquilo que é tido como uma certeza e que até dirigentes históricos do PCP admitiram já em conversas privadas: que muito provavelmente Manuel Domingues foi executado por responsáveis do PCP - o que hoje pode parecer um horror civilizacional, mas que, à época e no contexto da clandestinidade e da luta política do início dos anos 50, não é despropositado.

Uma década na prisão e a fuga mítica

Por fim, como o título indicia, há Álvaro Cunhal. Preso na Penitenciária de Lisboa, julgado e condenado, assumindo-se como líder comunista em tribunal, isolado na prisão, intelectual, pensador político, doutrinador, romancista, pintor. Pacheco Pereira faz uma aturada análise da sua obra na cadeia, desde a de Manuel Tiago Cinco Dias, Cinco Noites e A Mulher do Lenço Preto (depois denominada Até Amanhã, Camaradas), até ao ensaio histórico As Lutas de Classes em Portugal, passando pela participação na polémica sobre estética na revista Vértice, sob o pseudónimo de António Vale, enviada clandestinamente da cadeia. E ainda os desenhos da prisão feitos por Cunhal, que são analisados por Pacheco Pereira.

E, claro, as críticas que foi fazendo à orientação imprimida ao PCP pela direcção liderada por Fogaça e à qual esteve sempre em oposição. Até que, acompanhado por Carlos Costa, Francisco Martins Rodrigues, Francisco Miguel, Guilherme da Costa Carvalho, Jaime Serra, Joaquim Gomes, José Carlos, Pedro Soares e Rogério de Carvalho, fugiu de Peniche, numa das mais aparatosas e míticas fugas de presos políticos de que há memória, para, já em liberdade, assumir a clandestinidade - que nunca pensou deixar, por mais declarações que tenha feito na PIDE de que abandonaria a política - e retomar a sua vida de líder, reconquistando o PCP. Mas, sobre essa história, teremos de esperar que seja publicado o IV volume. Por agora, Pacheco Pereira brinda-nos com 750 páginas de boa história de Portugal que se lêem de uma penada.

COMUNICADO DO PCP SOBRE O III VOLUME DA BIOGRAFIA

PCP contra falsificação da história - Denunciar os crimes do fascismo

O Gabinete de Imprensa do Partido Comunista Português, em nota do dia 6 de Dezembro, acusa Pacheco Pereira de, a propósito de análises contidas no terceiro volume do seu livro «Álvaro Cunhal – uma biografia política, padecer de um anticomunismo vesgo e de pretender «inocentar a PIDE e criminalizar o PCP». Para os comunistas, a defesa da liberdade e da democracia exige não o branqueamento do fascismo e dos seus crimes, mas a sua denúncia. Publicamos em seguida, na íntegra, a nota do Gabinete de Imprensa.

1. Nos últimos dias, a propósito da edição do 3.º volume do livro de Pacheco Pereira, «Álvaro Cunhal – Uma Biografia Política», a opinião pública foi literalmente bombardeada com uma caluniosa e intelectualmente indigna campanha contra a história, o papel e a luta do PCP, a pretexto de pretensos assassinatos efectuados pelo PCP nos anos 50, do século passado, história desenterrada por Pacheco Pereira das operações da PIDE, aliás a sua principal e praticamente única «fonte», em particular na pessoa de um inspector da PIDE, o conhecido torcionário Fernando Gouveia.

2. As afirmações de Pacheco Pereira, de uma extrema gravidade, não podem ser silenciadas tanto mais que para além de serem caluniosas em relação ao PCP, o são igualmente em relação a pessoas que deram o melhor das suas vidas à luta pela liberdade do povo português e cuja memória deve ser preservada.
A história, o método e as «fontes» não são novos, nem originais. A ditadura fascista e a sua polícia política, aliás na esteira dos seus mestres hitlerianos, sempre responsabilizaram o PCP e as forças antifascistas por crimes que eles próprios cometeram, e não foram poucos.
O que há de novo e original é o facto de Pacheco Pereira adoptar como suas as «provas» e os argumentos da PIDE e procurar credibilizá-las com uma pretensa investigação histórica cujo objectivo é inocentar a PIDE e criminalizar o PCP.

3. Pacheco Pereira afirma que o «PCP sempre negou ter procedido a qualquer execução», como diz igualmente que «não existe qualquer documentação decisiva e de nem mesmo a PIDE – e a Polícia Judiciária, neste caso – terem conseguido encontrar provas que incriminassem os autores materiais dos assassinatos», mas nada disso o impede, recorrendo a um processo indigno e violador das mais elementares exigências de rigor, isenção e honestidade intelectual que deve pautar qualquer investigação histórica, de concluir pela responsabilidade do PCP nas referidas execuções.

4. Para Pacheco Pereira a ausência de provas, os desmentidos do PCP são coisas de pouca monta. Para ele, o que conta é a sua convicção de que essas seriam práticas comuns em outros Partidos Comunistas «amigos do PCP, além de que a PIDE não tinha por hábito executar militantes comunistas».
Pacheco Pereira não apresenta uma única prova que comprove as suas teorias, mas absolvida a PIDE, só lhe resta a teoria de que foi o PCP, teoria alicerçada nas elucubrações do inspector da PIDE, no diz que diz, em fontes «confidenciais», na referência a documentos da época que não revela e na infame truncagem e descontextualização de textos para os ligar aos factos.

5. Dando-se conta da inconsistência da sua «investigação histórica» tropeçando no assassinato de Humberto Delgado, não hesita, para manter a sua tese e ilibar a PIDE como instituição, em considerar o «caso Delgado muito obscuro quanto à responsabilidade da hierarquia da polícia no assassinato».

6. É facto que Pacheco Pereira, penetrado de um anticomunismo vesgo, revela muito pouco respeito pelas vítimas do fascismo, mas não pode passar sem a mais viva indignação a lama que lança sobre a memória de Militão Ribeiro, militante comunista que se portou sempre com grande heroicidade e que foi tragicamente assassinado pela PIDE, afirmando ser duvidosa a genuinidade da carta – ou pelo menos parte do texto – escrita por Militão Ribeiro ao PCP, com o seu próprio sangue, pouco antes da sua morte na cadeia da Penitenciária, onde foi assassinado pela PIDE.

7. Finalmente, o PCP não pode deixar de chamar a atenção da opinião pública democrática para a gravidade das acusações de Pacheco Pereira, na medida em que na base de meras suposições e efabulações, vai muito mais longe do que foi a própria PIDE, acusando no concreto um conjunto de destacados dirigentes do PCP, coisa que, na altura, nem a PIDE, apesar dos meios de que dispunha, se atreveu a fazer.
Felizmente que, pelo facto de vivermos em liberdade, as elucubrações históricas de Pacheco Pereira não poderão ser mais do que isso, embora não sejam pouco.

8. A verdade histórica é que sobre o PCP se abateu a mais feroz repressão pela sua perseverante e coerente luta pela liberdade do povo português. O PCP nessa luta pagou um pesado tributo com milhares dos seus militantes perseguidos, presos, torturados, caluniados e assassinados. A defesa da liberdade e da democracia exigem não o branqueamento do fascismo e dos seus crimes, mas a sua denúnci

4.12.05

FOTOS DO LANÇAMENTO DO III VOLUME NO ESTABELECIMENTO PRISIONAL DE LISBOA


Mesa: autor, Luís Filipe Rocha (cineasta, autor de A Fuga, sobre a fuga de Peniche de Dias Lourenço, autor do guião de Até Amanhã Camaradas) que fez a apresentação; João Alvim (editor responsável pelo Círculo de Leitores / Temas e Debates) e o Director-Geral dos Serviços Prisionais, nosso anfitrião.


Luís Filipe Rocha

Em breve, será publicado o texto de Luís Filipe Rocha.